quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O fim da banda Cordel do Fogo Encantado

Por Donizetti
COMUNICADO
http://cordeldofogoencantado.uol.com.br/
Comunicamos o encerramento das atividades artísticas da banda Cordel do Fogo Encantado.
Esta decisão implica na suspensão das apresentações ao vivo, como também da gravação em estúdio de material inédito.
A disposição em suspender suas atividades passa por decisões pessoais do fundador da banda, Jose Paes de Lira (Lirinha), expressas em seu comunicado abaixo, que implicam na impossibilidade de continuidade do grupo. Contudo, mantêm intactas as relações de profunda amizade, respeito profissional e carinho cultivadas entre os integrantes da banda, equipe técnica e produção, solidamente construídas nesses onze anos de convivência.
Estamos certos que nesse tempo realizamos um trabalho de referência na nova música pernambucana e brasileira.
A banda, em decisão conjunta com a produção, deverá lançar em breve registro de áudio e vídeo AO VIVO da apresentação realizada na praça do Marco Zero, Recife, no dia 14 de fevereiro de 2010, considerado por muitos um show histórico.
O grupo também pretende lançar material de arquivo selecionado entre registros realizados ao longo dos seus onze anos de existência.
Cordel do Fogo Encantado manterá em atividade seu site oficial (www.cordeldofogoencantado.com.br) através do qual informará seu público sobre os lançamentos dos registros acima citados e sobre outros temas que se fizerem necessários.
Atenciosamente,
Antonio Gutierrez
Produção – Cordel do Fogo Encantado

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dilma foca juventude de olho em um terço do eleitorado

A pedido de petista, núcleo de campanha busca políticas para faixa etária até 30 anos

Para o PT, eleitor jovem é refratário à estratégia de comparação dos projetos petista e tucano por não ter lembranças da gestão FHC

ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL

De olho no voto de um terço do eleitorado brasileiro, o programa de governo de Dilma Rousseff, que deve ser aclamada candidata petista no final de semana, terá como um dos eixos centrais a juventude.
Por insistência da ministra da Casa Civil, o núcleo de campanha trabalha na elaboração de um conjunto de políticas específicas para o público jovem de até 30 anos. As ações serão nas áreas social, econômica, educação e tecnológica.
As estimativas são de que o número de pessoas entre 15 e 29 anos no país chegue a 52 milhões neste ano -mais de um quarto da população. Ao mesmo tempo, a avaliação do governo é que essa fatia dos brasileiros foi menos beneficiada pelas políticas de combate a pobreza e redução de desigualdade social -que, segundo a última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), tiveram maior impacto entre idosos e primeira infância.
"Nós estamos convencidos que uma política estruturada para a juventude é um dos grandes desafios do próximo governo", diz o ministro petista Alexandre Padilha (Relações Institucionais) . "Será uma das questões centrais", diz.
Nos últimos meses, Dilma tem insistido no tema, recorrente em seus discursos e agenda. Participou do encontro da Juventude do PT, em Brasília, e, em São Paulo, visitou a Campus Party, evento de tecnologia voltado para o público jovem.
Ela também passou a discursar sobre temas caros a essa faixa, como educação, tecnologia e, em especial, a universalizaçã o da banda larga, e se diz "empolgada" com a internet.
"Não é apenas um capítulo sobre a juventude. A questão tem que ser tratada de forma transversal, com emprego, segurança, moradia, inclusão social [para os jovens]", afirma o presidente do PT, José Eduardo Dutra.
Há um ingrediente eleitoral importante na estratégia de propor mais políticas para a juventude. Para o PT, o eleitor jovem é refratário à estratégia eleitoral de comparação dos projetos petista e tucano. Aqueles que estão votando pela primeira vez, que tinham entre oito e nove anos quando Lula assumiu a Presidência, não lembram do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 23,5 milhões de eleitores (18% do total) têm até 24 anos, isto é, não eram obrigados a votar em 2002 e têm dificuldade de comparar os oito anos de Lula com o período anterior, legado que o PT quer colar no pré-candidato tucano, o governador de São Paulo, José Serra.
Dentro do PT, um dos entusiastas do tema é o ex-presidente do partido e ex-deputado federal José Dirceu. No encontro do campo majoritário do partido, em janeiro, Dirceu defendeu que o programa de governo do PT priorizasse políticas para os jovens. Em seu blog, afirmou que ""investir na nossa juventude -um contingente que chega a 50 milhões de pessoas- é fundamental para o desenvolvimento do nosso país".
Outras lideranças do partido acham que a juventude traz emoção para a campanha, uma militância ativa que ajudará na mobilização em favor da candidata. "Focar na juventude não é uma estratégia vista só de forma utilitária. É a militância, mas também é [um grupo] estratégico para o futuro do país", defende Dutra.

Projetos
Entre as propostas estudadas pelo núcleo que discute o plano de campanha de Dilma estão políticas para estimular a criação de empregos para a faixa etária até 30 anos, linhas de crédito específicas -como as do programa Minha Casa, Minha Vida-, de inclusão digital e na área educacional.
Outro plano é criar formas de estimular núcleos familiares jovens que hoje recebem o Bolsa Família a não precisar mais do benefício.
Segundo Padilha, as prioridades do governo Lula foram manter crescimento, geração de emprego, combate à inflação e redução da desigualdade social. A proposta de um "governo de continuidade e avanço", como o PT tenta vender a era Dilma, precisa focar na população que irá sustentar o mercado de trabalho e o crescimento na próxima década.
A ministra, que acompanha na Casa Civil o desenvolvimento do Plano Nacional de Banda Larga, afirma a assessores que que espera que ele se torne um novo Luz para Todos (programa de eletrificação do interior do país), ampliando a oferta de internet. "Para nós, a questão da internet é estratégica. Tem a ver com inclusão e com democracia", disse Dilma em janeiro.
A ministra também tem enfatizado a importância de ampliar a oferta educacional no país. "A mais cara a mim é a questão da educação", disse ao ser entrevistada pela apresentadora Luciana Gimenez, há três semanas.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Escola construída por trabalhadores sem-terra se consolida como espaço de formação política da militância social

"Florestan está vivo nesta escola mais do que nunca. Aqui é a nossa casa!”, declarou, visivelmente emocionada, a professora de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Heloisa Fernandes, filha de Florestan, patrono da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). Sua emoção foi compartilhada com cerca de 500 militantes, amigos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outros movimentos sociais e partidos políticos, durante a celebração dos 5 anos da escola, no dia 6, em Guararema (SP).

ENFF em vídeo

Para conhecer um pouco mais da construção e trajetória da Escola Nacional Florestan Fernandes, há um documentário disponível na internet, produzido pelo Ponto de Cultura da ENFF, em parceria com o Pontão de Cultura Rede Cultural da Terra. O vídeo, de 15 minutos, chama-se “ENFF: um sonho em construção” e pode ser assistido no link www.mst.org.br/node/9047.


A atividade – que teve início com um seminário sobre “O papel da formação política e ideológica no atual momento histórico: desafios e possibilidades”, com Ademar Bogo, da coordenação nacional do MST, Isabel Monal, educadora e filósofa cubana; e Luiz Carlos de Freitas, professor da Faculdade de Educação da Unicamp – não podia ser comemorada de outra forma: com estudo e militância. Afinal, mais de 16000 (dos quais metade mulheres) passaram por ali, vindos de mais de cem entidades da classe trabalhadora do Brasil e da América Latina.

Bogo destacou que a ENFF é uma grande conquista dos trabalhadores. Para ele, a escola cumpre um papel de articulação das forças de esquerda, que estão em um momento de fragmentação. “Não havia uma convocação para essas organizações. Somos convocados para vir à ENFF por Florestan Fernandes e pelos problemas sociais”, disse. O dirigente do MST encerrou sua fala afirmando: “para nós é um grande prazer estar comemorando os 5 anos da nossa escola. Com todas as limitações e contradições, a ENFF é uma fonte, e com cuidado, manteremos sua água limpa”.

A cubana Isabel Monal ressaltou a importância de “aprendermos com as experiências históricas”. Para ela, um ponto de partida para o socialismo pode ser a comunidade indígena. E, diante dos graves problemas provocados pelo capitalismo, fez um alerta: “sem socialismo não há salvação para o planeta terra”.

Em sua fala, sobre o atual modelo educacional e o papel da escola, o professor Luiz Carlos de Freitas afirmou que não basta garantir o conhecimento para a classe trabalhadora. Segundo ele, é preciso destruir a estrutura da escola capitalista, baseada na exclusão e subordinação dos trabalhadores. Para Freitas, a escola capitalista é isolada da vida. “A escola capitalista isola a juventude da vida, das contradições sociais. Precisamos formar lutadores, construtores, baseados em conhecimento, realidade e auto-organização”, analisa.

Solidariedade

O aniversário da escola contou com a participação de diversos colaboradores e amigos de movimentos sociais, como o filósofo Paulo Arantes, o jornalista José Arbex, a socióloga Virgínia Fontes, a psicanalista Maria Rita Kehl, o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), entre outros.

"O MST se mostrou um movimento legitimamente progressista quando nos convidou para trabalhar com psicanálise na ENFF”, afirmou a psicanalista Maria Rita Kehl, que há dois anos desenvolve terapia com um grupo de militantes que moram na escola. Segundo ela, não é verdade a tese de que o movimento é autoritário e funciona na base do medo. “O que existe é um pacto fraterno e solidário entre todos”.

"A ENFF está ajudando a reconstruir a universidade pública”, sustentou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, ex-presidente do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior). Segundo ele, o poder privado está pautando as pesquisas e trabalhos da universidade pública no país. Nesse quadro, a escola demonstra que apenas uma educação baseada no espírito público pode garantir o avanço do país.

O deputado federal Ivan Valente manifestou solidariedade a todos os militantes do MST que estão presos no interior de São Paulo e condenou a criminalização da luta pela reforma agrária. “Essas prisões são políticas”, denunciou o deputado.

Formação


O objetivo da ENFF é ser um espaço de formação superior, pluralista nas mais diversas áreas do conhecimento não só para os militantes do MST, como também de outros movimentos sociais rurais e urbanos, do Brasil e de outros países da América Latina e África. Nesses últimos cinco anos, mais de 16.000 trabalhadores participaram de cursos, seminários e atividades na escola. Há dezenas de parcerias com universidades públicas para graduação em várias áreas, como pedagogia, história, filosofia, além de mestrado e especializações. Ao todo, cerca de 500 professores voluntários passaram pela ENFF, além de cerca de 2.000visitantes do Brasil e do exterior, segundo Geraldo Gasparin, da coordenação da escola.

Além do projeto político-pedagógico, o método aplicado nesses cursos também é um diferencial na escola. Um deles é o da alternância, em que os estudantes permanecem na ENFF alguns dias e depois retornam para seus assentamentos e acampamentos. Nesse período longe da sala de aula, o educando é estimulado a desenvolver tarefas que consolidem a prática a partir do conhecimento teórico adquirido.

Histórico


Apesar de ter sido inaugurada em 23 de janeiro de 2005, a história da ENFF começou nos idos de 1996, quando surgiu a necessidade de se ter um espaço de formação da militância, de troca de experiências e de debate sobre a necessidade de transformação social, o processo de estudo, articulação e intercâmbio entre as organizações de trabalhadores do campo e cidade que lutam por um mundo mais justo.

Segundo Maria Gorete, da coordenação político-pedagógica da ENFF, o objetivo da escola é a apropriação do conhecimento para a transformação desta realidade, deste mundo. “A proposta de construção se inicia a partir de todo um processo do que é de fato o MST, uma construção coletiva a partir da solidariedade e do trabalho voluntário”, completa.

A construção da escola só foi possível graças à aposta do MST na educação e à solidariedade de militantes e organizações sociais de todo o mundo. Os recursos financeiros vieram de doações de quem acreditava no projeto, como o fotógrafo Sebastião Salgado, que cedeu os direitos de suas imagens publicadas no livro “Terra”; o cantor Chico Buarque (que produziu um CD para esse livro) e o escritor português José Saramago (autor do prefácio da obra). A mão-de-obra foi voluntária. Mais de mil militantes de todo o país participaram da construção, organizados em 25 brigadas de construção, vindos de 112 assentamentos e 230 acampamentos. A técnica utilizada na obra foi inovadora. Chama-se solo-cimento e consiste em blocos feitos pelos próprios trabalhadores a partir da prensagem da terra.

Atualmente, a ENFF conta com uma estrutura que inclui salas de aula, alojamentos, refeitório para 200 pessoas sentadas, auditório, sala de cinema, ciranda infantil, áreas de vivência e biblioteca com capacidade para até 40 mil livros.

(Com informações da assessoria de imprensa do MST e Jornal Sem Terra)

Genocídio sem limites na Colômbia

O governo não tem o menor interesse em esclarecer os casos dos 25 mil desaparecidos e das valas comuns com milhares de corpos; a mídia omite informações.

Bogotá - 26/01/2010


A própria Promotoria Geral do país reconhece que há na Colômbia mais de 25 mil desaparecidos, especialmente líderes de movimentos sociais, camponeses e lideranças comunitárias que desapareceram sem deixar rastros. Principal aliado do imperialismo na América Latina, o governo colombiano tenta esconder a identificação dos corpos enterrados em valas comuns pelo Exército a partir de 2005. A quantidade de mortos configura o mais feroz genocídio praticado nas últimas décadas por um governo fiel executor das políticas imperialistas na região.

No pequeno povoado de Macarena, região de Meta, localizado a 200 quilometros ao sul de Bogotá, uma das aéreas mais afetadas do conflito colombiano, foi descoberta a maior vala comum da história recente da América Latina, com uma cifra de cadáveres “NN”, enterrados sem identificação, que poderia chegar há dois mil, segundo diversas fontes, inclusive de moradores do local. Desde 2005, o Exército, cujas forças de elite estão nos arredores, tem enterrado atrás do cemitério local centenas de corpos sem identificação.É o maior enterro de vítimas de um conflito que se tem notícia no continente. Teria de se estabelecer um paralelo entre o holocausto nazista ou a barbárie de Pol Pot no Camboja, para se encontrar algo desta dimensão. Atrás do cemitério de Macarena, a 200 quilometros de Bogotá, se enterraram milhares de corpos sem identificação.O jurista Jairo Ramirez é o secretário do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia, ele acompanhou uma delegação de parlamentares ingleses até o local há algumas semanas e se empenhou em descobrir a magnitude da vala comum de Macarena. “O que nós vimos causa calafrios”, declarou ao Jornal Público. “Uma infinidade de inscrições NN e com fichas desde 2005 até hoje.”

Desaparecidos

Ramirez completa: “O comandante do Exército nos disse que eram guerrilheiros mortos em combate, mas a população nos diz que há inúmeros líderes sociais, camponeses e lideranças comunitárias que desapareceram sem deixar rastro”.A Promotoria anuncia investigações “a partir de março”, antes das eleições legislativas e presidenciais. Uma delegação parlamentar espanhola integrada por Jordi Pedret (PSOE), Inés Sabanés (IU), Francesc Canet (ERC), Joan-Josep Nuet (IC-EU), Carles Campuzano (CiU), Mikel Basabe (Aralar) y Marian Suárez (Eivissa pel Canví) chegou dia 25 de janeiro à Colômbia para estudar o caso e prepara um informe para o Congresso e o Parlamento Europeu. A situação da mulher, como primeira vítima do conflito, e dos sindicalistas (só em 2009 foram assassinados 41) vão centrar o trabalho em diferentes zonas do país.

Mil valas

O horror de Macarena tem chamado a atenção para a existência de mais de mil valas comuns de cadáveres sem identificação na Colômbia. Até o final do ano passado, os legistas haviam contabilizado 2.500 cadáveres, dos quais conseguiram identificar aproximadamente 600 e entregaram os corpos aos seus familiares. A localização destes cemitérios clandestinos foi possível graças às declarações de paramilitares presumidamente desmobilizados e acolhidos pela controvertida Lei de Justiça e Paz, que garante uma pena simbólica em troca da confissão de seus crimes. A última declaração foi de John Jairo Rentería, o Betún, que revelou perante o promotor e os familiares de vítimas que ele e seus aliados enterraram “ao menos 800 pessoas” na propriedade Villa Sandra, em Porto Asís, região de Putumayo. “Tinham de esquartejar as pessoas. Todos nas Autodefesas (organização paramilitar de extrema direita) tinham que aprender isso e muitas vezes se fez isso com as pessoas vivas”, confessou o chefe paramilitar ao promotor de Justiça e Paz.

“O governo não quer investigar”

Alfredo Molano, sociólogo e escritor, um dos colunistas mais influentes da Colômbia, tem sido o cronista da violência, o que o fez partir para o exílio, para escapar das ameaças dos militares e paramilitares. Leia o que ele diz:

Qual é a situação das valas comuns na Colômbia?

A própria Promotoria Geral de Nação fala em 25 mil “desaparecidos” , que em algum lugar tem de estar. Há cemitérios clandestinos enormes na Colômbia. Também é possível que tenham feito desaparecer muitos restos mortais como nos crematórios do nazismo.

Estas valas estão relacionadas com os chamados “falsos positivos”?

Sim, tudo isto pode estar relacionado com os “falsos positivos” (colombianos civis assassinados que eram apresentados como “mortos em combate”). O exército os enterrava clandestinamente. Boa parte deles vai ser encontrada nestas valas comuns.

Qual pode ser a magnitude das valas encontradas?

Terrível. Nem nos anos 50 houve na Colômbia tanta brutalidade como a que se evidencia com estas ações dos paramilitares, mas o governo não tem vontade de investigar a fundo e só deixará que apareçam algumas valas. Além disso, os prazos são elásticos e as dificuldades técnicas para as identificações, como provas químicas e DNA são enormes.

Andrés IdárragaJornal Público / Espanha

Publicado no sítio da Revista Caros Amigos
www.carosamigos. com.br