Entrevista com presidente da UNE. Augusto Chagas
22 de abril de 2010 0h 00
Luís Fernando Bovo - O Estado de S.Paulo
Na galeria de seus ex-presidentes, a União Nacional dos Estudantes (UNE) ostenta a foto do pré-candidato do PSDB José Serra. Entre 1963 e 1964, o tucano que vai disputar a sucessão do presidente Lula comandou a entidade estudantil, partindo para o exílio enquanto estava no posto. Hoje, 46 anos depois e com R$ 10 milhões em verbas federais no cofre, a organização tenta conter a forte pressão para declarar apoio formal a Dilma Rousseff (PT), candidata de Lula e rival de Serra na eleição.
Boa parte das correntes internas da UNE vai defender durante o 58.º Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg), que se realiza no Rio entre hoje e domingo, o apoio a Dilma. Resta saber se eles conseguirão convencer os demais e emplacar a proposta. "A minha opinião é que a UNE tem de manter uma postura de independência no pleito, sem declarar apoio formal a nenhum dos candidatos", diz o presidente, Augusto Chagas. A única vez em que a UNE declarou apoio a um candidato foi em 2002, no segundo turno, quando a entidade optou por Lula após um plebiscito.
Na entrevista abaixo, ele detalha a pressão que a UNE vem enfrentando, fala sobre os repasses federais, analisa o governos Lula e Serra e defende o controle social da mídia.
A UNE está avaliando a possibilidade de declarar apoio a um candidato nas eleições. Como está essa discussão?
É uma polêmica que sempre reaparece. O Coneg tem por objetivo justamente debater a postura que a UNE vai ter nas eleições. A nossa diretoria é muito plural. Se você pegar as quatro pré-candidaturas presidenciais, todas têm representação na UNE. No Coneg, vamos identificar os temas que acreditamos que precisam ser debatidos na eleição e preparar um programa. Tem algumas pessoas que vão defender que a UNE tem de declarar apoio a determinado candidato por acreditar que ele tem mais condições de implementar o programa proposto pelos estudantes. E tem outra opinião, que é a minha. Acho que a UNE tem de se manter neutra, numa postura de mais independência.
A pressão maior é pelo apoio a Dilma Rousseff?
A maioria das correntes que compõem a direção UNE está também na base do governo. Então, defendem a candidatura de Dilma à Presidência.
O sr. falou em independência. A UNE recebeu R$ 10 milhões em verbas federais nos últimos 5 anos. A independência não fica comprometida?
O que a UNE procurou fazer foi ocupar um espaço que foi aberto com a eleição do Lula. No período do governo FHC, a UNE tinha dificuldade de diálogo. Nunca havia sido recebida pelo ministro da Educação. O que mudou foi o tratamento. Lula, por sua trajetória, estilo e convicções, passou a ter a postura de estabelecer diálogo com alguns atores da sociedade. A UNE procurou ocupar esse espaço. A UNE sempre foi uma das grandes críticas à política econômica do governo. Fez passeatas e defendeu a demissão do presidente do Banco Central. Do ponto de vista de verbas, o que a UNE recebe são emendas parlamentares, a maioria relacionada à política cultural, e uma outra pequena parte de patrocínios de estatais. Apresentamos projeto de parcerias. É correto que os governos ajudem. Não há nada de ilegítimo e politicamente inaceitável nisso. Estamos tranquilos.
E o projeto que indeniza a UNE por conta da destruição de sua sede? Quanto ela receberá?
Estamos comemorando a aprovação, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Temos um projeto do Oscar Niemeyer. A UNE trabalhou muito para que esse projeto fosse aprovado, conseguimos o apoio de todos os partidos. O valor está vinculado ao custo da obra. O teto é R$ 30 milhões. O projeto cria uma comissão para acompanhar a obra.
Como avalia o governo Lula?
Avaliamos que estamos vivendo um período de consolidação da democracia e das políticas sociais. A educação tem vivido um bom momento. Triplicamos o orçamento da área, triplicamos a oferta de vagas nas universidades federais, voltamos a construir universidades. A autoridade do Brasil no mundo tem se ampliado. Mas há coisas a serem feitas. O Brasil ainda tem nas suas politicas macroeconômicas muito conservadorismo. Há a questão do problema agrário, que não foi enfrentado. Temos também o problema da juventude, do primeiro emprego.
E o governo Serra?
José Serra foi presidente da UNE. Recentemente ele deu uma declaração de que a UNE hoje é partidária. Ele foi infeliz, porque a UNE na época dele sempre teve organizações políticas à frente. Serra foi presidente da entidade por ter sido referência e liderança do movimento político que existia na organização. Na atual realidade política brasileira, ele representa interesses da elite, do setor mais conservador da nossa sociedade. A relação que manteve e desenvolveu com movimentos sociais foi trágica. Veja o caso dos professores. O governo Serra tem a postura de não fazer questão de estabelecer diálogo. É uma cegueira que se estabelece. Acusar uma greve de professores, com salário-base entre R$ 780 e R$ 950, e dizer que eles não têm razão para reivindicar aumento é um absurdo.
Você acha que a manifestação dos professores em frente ao Palácio dos Bandeirantes foi um ato político?
Acho que não devemos adjetivar a questão de maneira negativa. Ainda bem que tem política nos professores, que eles têm motivação, que eles pensam e agem com convicção política. Não acho correto ter motivação partidária, eleitoral. Eles têm razão para apresentar reivindicações. O governo de São Paulo teve pouquíssima habilidade para tratar com a greve. Eu estava no ato. A reação da PM foi inacreditável. Quem construiu a confusão foi a PM. Tomei pancada no rosto, sai sangrando.
No caso dos meios de comunicação, você acha que deve haver um conselho regulador?
Eu acho que precisamos ter controle social. É diferente de visões que defendem o controle governamental. Os meios de comunicação não podem ser tratados como uma atividade privada de qualquer tipo. A sociedade tem de ter ferramentas para fazer um controle da mídia.
22 de abril de 2010 0h 00
Luís Fernando Bovo - O Estado de S.Paulo
Na galeria de seus ex-presidentes, a União Nacional dos Estudantes (UNE) ostenta a foto do pré-candidato do PSDB José Serra. Entre 1963 e 1964, o tucano que vai disputar a sucessão do presidente Lula comandou a entidade estudantil, partindo para o exílio enquanto estava no posto. Hoje, 46 anos depois e com R$ 10 milhões em verbas federais no cofre, a organização tenta conter a forte pressão para declarar apoio formal a Dilma Rousseff (PT), candidata de Lula e rival de Serra na eleição.
Boa parte das correntes internas da UNE vai defender durante o 58.º Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg), que se realiza no Rio entre hoje e domingo, o apoio a Dilma. Resta saber se eles conseguirão convencer os demais e emplacar a proposta. "A minha opinião é que a UNE tem de manter uma postura de independência no pleito, sem declarar apoio formal a nenhum dos candidatos", diz o presidente, Augusto Chagas. A única vez em que a UNE declarou apoio a um candidato foi em 2002, no segundo turno, quando a entidade optou por Lula após um plebiscito.
Na entrevista abaixo, ele detalha a pressão que a UNE vem enfrentando, fala sobre os repasses federais, analisa o governos Lula e Serra e defende o controle social da mídia.
A UNE está avaliando a possibilidade de declarar apoio a um candidato nas eleições. Como está essa discussão?
É uma polêmica que sempre reaparece. O Coneg tem por objetivo justamente debater a postura que a UNE vai ter nas eleições. A nossa diretoria é muito plural. Se você pegar as quatro pré-candidaturas presidenciais, todas têm representação na UNE. No Coneg, vamos identificar os temas que acreditamos que precisam ser debatidos na eleição e preparar um programa. Tem algumas pessoas que vão defender que a UNE tem de declarar apoio a determinado candidato por acreditar que ele tem mais condições de implementar o programa proposto pelos estudantes. E tem outra opinião, que é a minha. Acho que a UNE tem de se manter neutra, numa postura de mais independência.
A pressão maior é pelo apoio a Dilma Rousseff?
A maioria das correntes que compõem a direção UNE está também na base do governo. Então, defendem a candidatura de Dilma à Presidência.
O sr. falou em independência. A UNE recebeu R$ 10 milhões em verbas federais nos últimos 5 anos. A independência não fica comprometida?
O que a UNE procurou fazer foi ocupar um espaço que foi aberto com a eleição do Lula. No período do governo FHC, a UNE tinha dificuldade de diálogo. Nunca havia sido recebida pelo ministro da Educação. O que mudou foi o tratamento. Lula, por sua trajetória, estilo e convicções, passou a ter a postura de estabelecer diálogo com alguns atores da sociedade. A UNE procurou ocupar esse espaço. A UNE sempre foi uma das grandes críticas à política econômica do governo. Fez passeatas e defendeu a demissão do presidente do Banco Central. Do ponto de vista de verbas, o que a UNE recebe são emendas parlamentares, a maioria relacionada à política cultural, e uma outra pequena parte de patrocínios de estatais. Apresentamos projeto de parcerias. É correto que os governos ajudem. Não há nada de ilegítimo e politicamente inaceitável nisso. Estamos tranquilos.
E o projeto que indeniza a UNE por conta da destruição de sua sede? Quanto ela receberá?
Estamos comemorando a aprovação, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Temos um projeto do Oscar Niemeyer. A UNE trabalhou muito para que esse projeto fosse aprovado, conseguimos o apoio de todos os partidos. O valor está vinculado ao custo da obra. O teto é R$ 30 milhões. O projeto cria uma comissão para acompanhar a obra.
Como avalia o governo Lula?
Avaliamos que estamos vivendo um período de consolidação da democracia e das políticas sociais. A educação tem vivido um bom momento. Triplicamos o orçamento da área, triplicamos a oferta de vagas nas universidades federais, voltamos a construir universidades. A autoridade do Brasil no mundo tem se ampliado. Mas há coisas a serem feitas. O Brasil ainda tem nas suas politicas macroeconômicas muito conservadorismo. Há a questão do problema agrário, que não foi enfrentado. Temos também o problema da juventude, do primeiro emprego.
E o governo Serra?
José Serra foi presidente da UNE. Recentemente ele deu uma declaração de que a UNE hoje é partidária. Ele foi infeliz, porque a UNE na época dele sempre teve organizações políticas à frente. Serra foi presidente da entidade por ter sido referência e liderança do movimento político que existia na organização. Na atual realidade política brasileira, ele representa interesses da elite, do setor mais conservador da nossa sociedade. A relação que manteve e desenvolveu com movimentos sociais foi trágica. Veja o caso dos professores. O governo Serra tem a postura de não fazer questão de estabelecer diálogo. É uma cegueira que se estabelece. Acusar uma greve de professores, com salário-base entre R$ 780 e R$ 950, e dizer que eles não têm razão para reivindicar aumento é um absurdo.
Você acha que a manifestação dos professores em frente ao Palácio dos Bandeirantes foi um ato político?
Acho que não devemos adjetivar a questão de maneira negativa. Ainda bem que tem política nos professores, que eles têm motivação, que eles pensam e agem com convicção política. Não acho correto ter motivação partidária, eleitoral. Eles têm razão para apresentar reivindicações. O governo de São Paulo teve pouquíssima habilidade para tratar com a greve. Eu estava no ato. A reação da PM foi inacreditável. Quem construiu a confusão foi a PM. Tomei pancada no rosto, sai sangrando.
No caso dos meios de comunicação, você acha que deve haver um conselho regulador?
Eu acho que precisamos ter controle social. É diferente de visões que defendem o controle governamental. Os meios de comunicação não podem ser tratados como uma atividade privada de qualquer tipo. A sociedade tem de ter ferramentas para fazer um controle da mídia.
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